Dezembro de 2012 pode ser considerado o mês do ebook no Brasil. O mercado, que andava meio tímido por aqui, sofreu um aporte de peso com três das maiores empresas do mundo entrando de vez no jogo de livros digitais no Brasil, a Amazon, a Google e a Kobo. Isso sem contar que já temos disponível há algumas semanas também a iBookstore, da Apple.
E se temos livros digitais, precisamos de leitores de livros digitais. E aí duas empresas ganham destaque no Brasil, Kobo, que já está comercializando oficialmente no Brasil, através da Livraria Cultura, a versão Touch de seu leitor eletrônico, e a Amazon, com seu Kindle, que começou a ser vendido recentemente na internet e em algumas lojas físicas, sendo até então o leitor mais popular, e mais fácil de se comprar, por aqui, mesmo antes de seu lançamento oficial. Claro que também já existiam por aqui leitores da Positivo e da Gato Sabido, porém são tão caros e deficientes frente aos novos concorrentes, que nem vem ao caso comentar (nunca vou me esquecer do dia que fui todo ansioso ver um Positivo Alpha, na própria Livraria Cultura, e o quanto me decepcionei com o que vi. Quase me desiludi com essa coisa de leitura digital, até que o Kindle surgiu em minha vida para me salvar).
Antes que alguém venha dizer que me esqueci de considerar os tablets, quero deixar claro que tablets e eReaders são coisas diferentes, são categorias de produtos totalmente distintas. A própria Amazon e Kobo entendem isso, tanto que ambas possuem também tablets entre seu portfólio de produtos, mas mantêm os eReaders como prioridade entre os produtos eletrônicos.
Um eReader é um aparelho dedicado, exclusivo para a leitura de livros e conteúdos digitais. Possue tela monocromática, é extremamente leve, pequeno, e tem seu design desenvolvido pensando no conforto. O maior diferencial de um eReader é a tecnologia eInk, conhecida como o papel eletrônico, ou tinta eletrônica. Tal tecnologia proporciona algo que nenhum tablet é capaz, a perfeita sensação de estar lendo uma página de papel de verdade. Até pouco tempo atrás, outro diferencial era a falta de brilho da tela, o que impossibilitava seu uso no escuro, que é exatamente o que acontece com um livro convencional de papel, porém tanto a Kobo quanto a Amazon resolveram dar um passo a frente nesse quesito, apresentando recentemente seus novos eReader com uma nova tecnologia de iluminação das telas eInk, a Kobo com seu Kobo Glo e a Amazon com seu Kindle PaperWhite.
Mas o foco deste texto é fazer uma singela comparação entre o Kindle tradicional, conhecida como versão 4, que é a versão lançada no Brasil, de acordo com o site da Amazon no Brasil, e o Kobo Touch, versão atualmente disponível na Livraria Cultura. Meu objetivo é realizar uma comparação simples, com base na minha experiência com esses dois dispositivos, para que seja possível entender o que eles possuem de semelhanças, diferenças, seus pontos positivos e negativos, de forma a ajudar quem está pensando em comprar um aparelho do tipo, a escolher o melhor para seu perfil. Em momento algum tenho como objetivo estabelecer qual é o melhor ou o pior, pois entendo que no que diz respeito a certas tecnologias, o que pode ser melhor para mim, não necessariamente seja o melhor para todos, e assim caminha a humanidade.
Design
Eu considero design uma questão meio subjetiva, pois leva muito em consideração o gosto pessoal de cada um. No meu caso, acho o design e acabamento do Kindle melhor, que passa uma aparência de equipamento mais resistente, porém, isso é apenas aparência mesmo, pois o Kobo é tão resistente quanto o Kindle. Acredito que a variedade de cores do Kobo também possa contar como vantagem para alguns.
O Kobo, por ser Touch, tem ainda um visual mais simplista, possuindo apenas um botão na frente, que fica abaixo da tela, enquanto o Kindle possui cinco botões no mesmo lugar. Ainda em minha opinião, os botões do Kindle, além de facilitar seu uso, conforme falarei adiante, conferem uma melhor aparência ao produto.
Ambos possuem um botão para ligar/desligar ou acionar a tela de descanso. No Kindle tal botão está localizado na parte inferior, ao lado da entrada microUSB, enquanto no Kobo o botão fica na parte de cima do aparelho.
Além disso, o Kindle possue ainda botões laterais para virar as páginas, o que não existe no Kobo, onde as páginas são viradas ao tocar na tela.
Tela
Tanto o Kobo Touch quanto o Kindle possuem tela de seis polegadas, embora quando colocados lado a lado pareça que a tela do Kindle é maior. A tela de ambos utiliza a tecnologia eInk e não são coloridas, o que faz com que tais leitores não sejam uma boa opção para a leitura de livros com ilustrações coloridas, livros fotográficos, revistas e HQs coloridas.
Por outro lado, a leitura de livros comuns é uma experiência maravilhosa, tanto em um quanto em outro. Não há muitas diferencias neste caso, a não ser a questão do touch.
O touch do Kobo facilita muito na hora de se digitar, porém para virar páginas, acessar funções e menus, os botões do Kindle facilitam muito mais, principalmente para o uso com uma mão só. Ainda sobre o touch, não espere uma resposta tão boa quanto a dos tablets, sendo difícil seu uso em funções como a seleção de textos ou acionamento de funções e menus. Às vezes é necessário forçar demais a tela, gerando um esforço desnecessário.
Peso e Dimensões
Não há grande diferença de peso e dimensões entre o Kindle e o Kobo Touch, sendo que ambos são extremamente leves e pequenos, proporcionando muito conforto durante o uso. Como são mais leves e menores que a maioria dos livros de papel, é difícil se sentir cansado ou desconfortável durante a leitura. Além disso, cabem facilmente em qualquer bolsa ou mochila, e podem ser levado até mesmo em alguns bolsos. Eu mesmo, geralmente carrego o Kindle no bolso da calça, mesmo com capa.
O Kindle pesa 170g, sendo pouca coisa mais leve que o Kobo Touch, que pesa 185g, uma diferença tão pequena que quase não se nota na prática. Quanto às dimensões, o Kindle tem 16,5 cm x 11,4 cm, sendo do mesmo tamanho que o Kobo Touch, porém o Kindle é mais fino, com 0,8 cm de espessura, contra 1 cm do Kobo.
Capacidade de Armazenamento
Neste ponto, temos uma espécie de empate técnico, mas com uma vantagem do Kobo. Tanto um quanto o outro possuem 2GB de memória interna, espaço suficiente para armazenar mais de 1.000, o que é mais do que suficiente para a grande maioria dos leitores. Mas então, qual a vantagem do Kobo? Ele possue slot para microSD, sendo possível expandir o espaço para 32GB, o que corresponde ao armazenamento de aproximadamente 30.000 livros.
Para quem vai usar o eReader apenas para a leitura de livros nos formatos EPUB ou MOBI, é mais do que suficiente, porém, alguns arquivos em formato PDF e, principalmente, arquivos de quadrinhos, formatos CBR/CBZ, podem ser extremamente grandes. Neste caso, um espaço extra para armazenamento certamente será muito bem vindo.
Conectividade
Tanto o Kindle quanto o Kobo Touch comercializados no Brasil possuem apenas conexão Wi-Fi. No exterior, até existe um modelo 3G do Kindle, porém, isso não chega a ser uma deficiência tão grande por aqui, já que o principal uso da conexão à Internet costuma ser para a sincronização da biblioteca e compra de livros, sendo possível realizar tais tarefas em qualquer ponto Wi-Fi.
Além da conexão à Internet, ambos possuem também um conector microUSB, para conexão com o computador e carga da bateria.
Loja Própria
Os dois aparelhos possuem suas lojas próprias, o que possibilita a comprar de livros diretamente do eReader. O Kindle tem a Kindle Store, da Amazon, enquanto o Kobo tem no Brasil acesso ao acervo da Livraria Cultura.
A navegação na loja do Kindle é muito mais fácil, prática e intuitiva, enquanto navegar na loja do Kobo se mostrou uma coisa bem lenta e cansativa. No Kindle eu consigo buscar, acessar o conteúdo e comprar um livro rapidamente, enquanto no Kobo eu acabo dando preferência por comprar por um computador e sincronizar com o dispositivo posteriormente.
No exterior, tanto as lojas do Kobo quanto do Kindle são cheio de ofertas de livros grátis ou com ótimos descontos, mas isso, infelizmente, ainda não é realidade no Brasil. O jeito é esperar que com o tempo possamos contar com essas vantagens por aqui também.
O acervo de ambas as lojas ainda é bem tímido, se comparado às lojas internacionais, porém é muito mais fácil encontrar bons títulos em português, principalmente os mais recentes, nas lojas nacionais. Acredito que o aumento do acervo seja apenas uma questão de tempo, lembrando que toda essa “revolução digital” é bem recente no Brasil.
Agora, um assunto polêmico, os mamilos da era digital dos livros no Brasil, os preços. Alguns dizem que os preços estão absurdos, comparando-os aos preços praticados nas livrarias digitais de outros países, ou mesmo com descontos oferecidos lá fora. Mas será que a diferença é assim tão grande, principalmente se compararmos edições em português? Não vou nem entrar no mérito da produção, se é mais cara em formato de papel ou digital, mas apenas quero mostrar algumas comparações dos preços praticados pelas lojas nacional e internacionais, tanto da Kobo quanto da Amazon.
Amazon.com US$ 10,74 R$ 22,29 (cotação de 21/12/2012)
Amazon.com.br R$ 22,41
KoboBooks.com R$ 22,41
Livraria Cultura R$ 24,90
- A Guerra dos Tronos – As Crônicas de Gelo
Amazon.com US$ 12,61 R$ 26,23
Amazon.com.br R$ 26,30
KoboBooks.com R$ 27,97
Livraria Cultura R$ 32,90
Amazon.com US$ 10,74 R$ 22,34
Amazon.com.br R$ 22,41
KoboBooks.com R$ 22,41
Livraria Cultura R$ 24,90
- Assassins` Creed: Renascença
Amazon.com (inglês) US$ 7,52 R$ 15,63
Amazon.com.br R$ 21,85
KoboBooks.com R$ 23,00
Livraria Cultura R$ 23,00
O que foi possível verificar nessa pesquisa que eu fiz, é que entre as versões em português praticamente não existe diferença de preço. Só há alguma diferença mesmo quando comparamos com a edição em inglês, como por exemplo a versão em inglês do Assassin`s Creed, que citei por último na lista.
Transferência de livros e compatibilidade
Com a limitação do catálogo de livros no Brasil, e uma possível concorrência entre lojas, principalmente agora com várias opções á disposição, não faz muito sentido ficar preso à uma única loja. Infelizmente a Amazon não pensa assim, e criou um sistema fechado para o Kindle, que lê apenas arquivos no formato AZW (formato dos ebooks vendidos na Kindle Store), além de PDF e MOBI. Pode até parece uma desvantagem para o Kindle, já que a maioria dos livros digitais hoje em dia utilizam o formato EPUB, e na verdade realmente é.
Mas nem tudo está perdido, pois mesmo com essa restrição, é possível adicionar e ler qualquer livro no Kindle, bastando apenas fazer a conversão, via alguma software, como o Calibre, por exemplo. Através do Calibre, inclusive, é possível converter para MOBI e já enviar o livro por email para o Kindle. Não é nada difícil e geralmente é muito rápido. Caso o arquivo possua DRM, é necessário antes quebrar o bloqueio, o que também é simples, fácil e rápido. Em uma pesquisa rápida no Google é fácil encontrar um aplicativo que faz isso.
Já o Kobo tem a vantagem de suportar diversos formatos de arquivo, como MOBI, EPUB, PDF, TXT, CBR e CBZ, estes dois últimos tradicionais formatos de HQs. Porém, na prática, essa vantagem só vale mesmo pela leitura nativa de EPUB, pois ao tentar ler outros formatos de livros, a experiência deixa muito a desejar, mas muito mesmo. Mesmo a leitura de HQs pode não ser uma boa, primeiro pelo tamanho da tela (eu já não gosto de ler em tablets de 7”, quanto mais numa tela de 6”) e segundo pela falta de cores, já que boa parte dos títulos atualmente são coloridos. Curiosamente, até a leitura de arquivos em PDF é melhor no Kindle do que no Kobo, porém, o recomendado mesmo é utilizar algum software e converter esses tipos de arquivos para EPUB (Kobo) ou MOBI (Kindle).
Já quanto a transferência de arquivos para os dispositivos, minha experiência inicial com o Kindle foi muito mais fácil do que com o Kobo. No Kindle, existe até mesmo a possibilidade, mais utilizada por mim geralmente, de enviar arquivos via email. Dizem que existe esta possibilidade no Kobo também, mas até agora eu não consegui.
Transferir arquivos para o Kobo, na teoria, é relativamente simples. Basta conectar o cabo USB no computador e copiar os arquivos para o dispositivo, que vai aparecer como se fosse um HD Externo ou Pen-Drive. Porém, na primeira vez, depois de fazer isso, despluguei o cabo e… nada. Refiz todo o processo, e na terceira vez, depois de desligar o dispositivo, é que minha biblioteca atualizou e mostrou os livros adicionados. Na segunda vez foi mais fácil, bastou desconectar o cabo e esperar a sincronização da biblioteca. Mas pelo que andei pesquisando, desligar o Kobo para que essa sincronização aconteça às vezes pode ser mesmo necessário, o que acaba sendo um pequeno inconveniente. Uma dica importante: Nunca desconecte o Kobo do computador sem antes Ejetar o dispositivo.
Interconectividade
Tanto o Kobo quanto o Kindle possuem aplicativos para tablets e smartphones, mas o mais bacana desses aplicativos é a interconectividade entre eles e os dispositivos. Por exemplo, posso começar a ler um livro no Kindle, e quando eu pegar meu tablet Android, ao abrir o aplicativo Kindle, eu terei o livro sincronizado, com minhas anotações, marcações e, o mais legal, na página em que parei no dispositivo.
Funções Extras
O Kobo e o Kindle possuem várias funções extras, desde àquelas relacionadas à experiência de leitura, como aumentar ou diminuir o tamanho das letras, consulta ao dicionário, marcação de páginas, anotações etc. Porém, o Kobo oferece mais opções, por outro lado, acionar tais funções no Kindle é muito mais fácil. No touch do Kobo, geralmente é preciso utilizar uma certa força, e nem sempre o comando é reconhecido de imediato.
Outra função extra disponível tanto no Kobo quanto no Kindle é um navegador web, que serve mais para emergências e consultas rápidas, pois não oferece uma experiência de uso muito agradável, mas essa experiência acaba sendo bem pior no Kobo.
O Kobo ainda apresenta como conteúdo extra alguns joguinhos, que pra mim, sinceramente, não acrescenta em nada e não faz diferença nenhuma.
Bateria
Uma vantagem do livro de papel: não é preciso se preocupar com a bateria. E quando se fala em bateria, geralmente pensamos em smartphones, notebooks e tablets atuais, que possuem baterias que duram no máximo alguns dias (isso no caso de tablets, baterias de smartphones e notebooks geralmente não passam de um dia).
Felizmente a realidade no caso dos eReader é outra, e bem melhor. O Kobo promete uma duração de bateria de mais de um mês, e sou forçado a acreditar, já que a bateria do meu Kindle já durou quase três meses. O segredo? Basta ativar o wi-fi somente quando necessário, e deixa-lo em modo avião no restante do tempo.
Nem o Kobo nem o Kindle vêm com adaptador para ligar na tomada. Mas carregar a bateria é simples e geralmente rápido (algumas horas, o que é rápido, considerando a duração de semanas). Basta conecta-los, via cabo USB, no computador e pronto. Porém, uma boa notícia para quem possue dispositivos da Apple, com adaptador de tomada USB, é possível conectar o cabo USB, tanto do Kindle quanto do Kobo, nesse adaptador. E pra quem tem algum smartphone Android (e outros modelos de celulares) é mais fácil ainda, pois o conector microUSB é o mesmo desses dispositivos. Eu mesmo, geralmente uso uma dock do Android para carregar o Kindle. Fácil, prático e bem mais rápido do que via computador.
Disponibilidade e preço
Bom, tanto o Kindle quanto o Kobo já estão á venda no Brasil, e depois dessa singela comparação de vários atributos, só nos resta avaliar mais uma coisa, preço.
O Kobo está sendo vendido pela Livraria Cultura por R$ 399,00, enquanto o Kindle está sendo vendido em algumas lojas físicas da Livraria da Vila e online, no site do Ponto Frio.
Espero que essas informações sejam úteis para esclarecer algumas dúvidas em relação aos pontos positivos e “negativos” dos dois principais eReaders que chegaram ao Brasil para alavancar o mercado de livros digitais.