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A violência de gênero e o viés étnico-racial

20 nov

A violência contra a mulher é um instrumento construído historicamente que perpetua a desigualdade entre homens e mulheres. Insere-se na vida das mulheres desde as relações domésticas às relações de trabalho, causando danos psicológicos, físicos e até a morte das vítimas. Atualmente, as pesquisas que versam sobre a violência de gênero consideram não apenas os eventos, mas também as condições sociais que a originam.

Nesse sentido, a discussão sobre a violência de gênero deve perpassar a construção da nossa sociedade, marcada historicamente pela tradição da família patriarcal, o que levou à delimitação de papéis e espaços para homens e mulheres. Os resquícios dessa concepção se manifestam como estereótipos que atribuem características e competências diferenciadas por gênero. Assim, qualidades como força física são atribuídas aos homens e características ligadas à fragilidade às mulheres, valorizando e atrelando a idéia de submissão  à personificação feminina.

Ainda que a violência contra a mulher abranja todas as classes sociais, ela é ainda mais impactante quando se articula a outras violências. No caso das mulheres negras essa situação não é apenas amparada pelo sexismo, mas também pelo racismo.

O estudo “Indicadores de Desigualdade Racial”, organizado pela fundação SEADE, indica que a taxa de homicídio contra mulheres negras na faixa etária que vai dos 10 aos 24 anos, no Estado de São Paulo, é superior em mais de três pontos percentuais à taxa de homicídio de mulheres brancas na mesma faixa etária. O estudo, contudo, considera como mulheres negras o agrupamento das populações classificadas como preta e parda. Se computarmos apenas as mulheres classificadas como pretas, essa diferença sobe para oito pontos percentuais.

Ao analisarmos a faixa etária compreendida entre 25 e 39 anos, a desigualdade entre a taxa de homicídio contra mulheres negras e brancas se mantém em três pontos percentuais. Se restringirmos a comparação entre as mulheres brancas e as mulheres classificadas como pretas, a diferença é superior a dez pontos percentuais.

Os dados ilustram que a violência de gênero é acentuada quando as vítimas são mulheres negras. Os movimentos feministas negros têm lutado para a incorporação da violência racista como uma dimensão da violência de gênero. Tal ponto de vista demanda uma reflexão sobre as raízes históricas e culturais do nosso país, considerando o patriarcalismo e o racismo como elementos estruturantes na construção da sociedade brasileira.

Compreendemos que não basta eliminarmos as desigualdades entre homens e mulheres se não pensarmos nas discrepâncias entre as condições de vida de mulheres brancas e negras. É preciso tratar a violência de gênero a partir de um recorte racial, comprometendo-se ao mesmo tempo com a luta pela igualdade de gêneros e com a luta pela igualdade racial, e entendendo o caráter transversal da promoção da diversidade.

A Caixa reconheceu a necessidade de se implantar uma política de valorização da diversidade através da implementação do Programa Caixa de Diversidade. O programa foi pensado com o objetivo de valorizar e articular as diferenças humanas, por meio de ações que sensibilizem colegas, clientes, fornecedores e parceiros quanto às formas de preconceito e que promovam a igualdade de oportunidades. 

A criação de comissões como a Comissão Pró-equidade de Gênero e a Comissão Nacional para a Igualdade Racial são marcos desse novo conceito de gestão, com foco na construção de um ambiente equânime e na valorização das potencialidades de todos/as os/as empregados/as da Caixa: homens, mulheres, pretos/as, pardos/as, indígenas, brancos/as e amarelos/as.

Cássia Maria da Silva Rodrigues é socióloga, integrante da Comissão Nacional para a Igualdade Racial da Caixa Econômica Federal

 
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Publicado por em novembro 20, 2009 em DIREITOS HUMANOS

 

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