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DAS RELAÇÕES CONJUGAIS ou, do amor

do Mestre J. Pietro B. Nardella Dellova

Que belos são os teus amores, esposa minha…
mel e leite estão debaixo da tua língua…
o teu umbigo é como uma taça redonda na qual não falta vinho…
beije-me ele com os beijos da sua boca…
eu sou do meu amado e o meu amado é meu…
Shir Harishim (Cantares de Sh’lomo)

É preciso avançar. Descobrir algo mais que a futilidade dos dias e a superficialidade dos casamentos, sobremodo as relações de homem e mulher. Superando os obstáculos cotidianos, é possível entender que esta relação é, ou na verdade, deveria ser, um encontro. Encontro de humanos que constróem um diálogo: humanizam. O encontro estabelece, vez por todas, a perfeição, em que emissor/receptor se confundem, se plenificam e se compreendem, num processo único e intenso de mensagem/resposta, por códigos verbais/não verbais. Principalmente, não verbais, pois que outro código é necessário, quando naturalmente as pupilas dos olhos e os lábios da boca dilatam-se, numa demonstração convidativa? É como ouvir, olhando estas pupilas e estes lábios: “entre, ilumine e acomode-se na intimidade da minha casa”.

Por que portas se pode entrar? Por todas as que a natureza deu aos seres humanos: pois eles se vêem, eles se ouvem, eles se cheiram, eles se beijam e, finalmente, eles se tocam num toque suave e inconfundível. E não se despreze nenhuma destas portas sob pena de morte, porque cada uma, e todas elas, conduzem à intimidade, ao mais profundo, ao centro da pessoa amada, enfim, ao que ela é –ninguém sabe quem ela é, senão quem ama, entra e ilumina. A isto os judeus chamam bênção de D’us, plena de substância que é, a um só tempo, entranhavelmente bom, muito bom, e universalmente maravilhoso.

Não é sem motivo que o vinho seja a expressão deste encontro (ninguém em sã consciência bebe do vinho sozinho). Vinho é bebida para dois que se encontram e tornam-se um, transformando suas bocas e seus umbigos em cálices: pois é na boca e no umbigo que se derrama do vinho e dele se bebe. O vinho que é, o vermelho da sua cor, o perfume da sua essência, o sabor das suas uvas, o toque que enche a boca e o brinde dos corpos que se abençoam. Quem for apressado, infeliz e ébrio, beba aguardente, conhaque, cerveja e outros venenos, mas, no umbigo e na boca dos que se amam apenas vinho e, na casa íntima, somente os que portam a luz e a poesia: a chave!

Porque eles, os que se amam, não são o balcão de um boteco, onde os insípidos, os trêmulos e os egocêntricos buscam ouvidos para as suas mágoas e um copo qualquer em que possam afogá-las. Os que se amam são a mesa aparelhada e posta, na qual dedicam seus ouvidos (e seu íntimo) e oferecem suas mãos, para com elas, abençoarem o encontro, e somente com elas, partirem o pão e, embebendo-o no vinho, o depositarem na boca do ser amado.

É um processo de vida, no qual cada raiz será recoberta com boa terra, e cada boa terra ungida com água fresca e, a alegria indizível e inegociável, é ver as flores se abrindo às borboletas e às abelhas e, o fruto, tomando forma e cor, substância e paladar, oferecendo-se a todos os sentidos: às mãos, à boca, aos olhos, ao nariz e ao ouvido, ligados por alma, espírito e corpo: pelo amor. Em que cada poro não é desconhecido, nenhuma mudança de cor ou temperatura passa despercebida, e o pulsar do peito se converte em notas ao ouvido do músico-poeta, e somente ele as ouve e as pinta na partitura.

É a harmonia: o humano se respeita e se reconhece gente apenas. A presença de um e de outro é não menos que um acontecimento vivificador : e ao menor sinal de aproximação a menor parte do corpo estremece, se robustece e se agiganta e a alma se abre como um manto, que se faz céu, que se faz universo sem medida e sem fim. E nada perturba, nada incomoda, nada se interpõe, nada falta. Tudo é belo: tudo é estado de graça!

É, então, o amor de entrega, a comunhão, a ternura, a leveza da alma e do corpo, o convite, o pão e o vinho, o caso, a leitura de Vinícius e Sh’lomo, o beijo íntimo e demorado, a lua e pilhas de estrelas que se contam calmamente, o verde da serra, a brisa do mar azul, a audição de J. S. Bach, o caffè, o respirar, o peito e a alegria das águas que saltam de fontes.

E se não for assim, exatamente assim, é, então, o estupro tolerado, a conveniência, a tortura, a morte da alma e do corpo, a violação, o churrasco e a cerveja, o descaso, a novela, a fita pornô e pilhas de filmes da promoção, a fila sebosa e interminável para o litoral, a areia nos cabelos, a discussão de contas, o shopping center, o ronco, as costas e o peso dos rios que se arrastam.

(publicado no Campinas Café)
postato no Cafe Torah em 5 Kilslev 5766

© Ms. J. Pietro B. Nardella Dellova, 43, Mestre em Direito pela USP (A Crise Sacrificial do Direito: um estudo de René Girard, Martin Buber e Yeshua). Mestre em Ciências da Religião pela PUC/SP (A Palavra Como Construção do Sagrado: um estudo da Poesia em Heidegger e Osman Lins). Pós-graduado em Direito Civil (Os Direitos da Personalidade). Pós-graduado em Literatura Brasileira (A Palavra Multifacetada: do grau zero e outros graus da palavra). Formado em Filosofia e em Direito. Poeta e Membro da União Brasileira de Escritores – UBE. Autor dos livros: AMO, NO PEITO e ADSUM. Ex-membro da Comissão de Bioética e Biodireito da OAB/SP. Darsham (predicatore) e Mestre da Sinagoga Sêh HaElohim (originada da Sinagoga Scuola (Beit HaMidrash), Lazio, Itália). Membro ativo da Ordem dos Advogados do Brasil e da Associação dos Advogados de São Paulo. Consultor e Palestrista. Professor de Direito Civil, Ética e Filosofia do Direito em São Paulo. Coordenador dos Cursos de Direito da Faculdade de Jaguariúna e da Faculdade Policamp, em SP.

 
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Publicado por em julho 14, 2011 em RELACIONAMENTO

 

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Máscaras do Amor

Mais um texto que escrevi com base em acontecimentos reais. Foram coisas que realmente aconteceram na adolescência, praticamente da forma que eu estou relatando. Confesso que não é dos meus preferidos, mas ainda sim tenho uma espécie de “carinho” por ele, já que de certa forma, narra uma situação que vivenciei no passado.

Por Y. Camargo

“Estou sentado à sua porta, esperando que seu amor saia e me encontre…”

Jaqueline, com um lindo sorriso nos lábios, lê mais um bilhete de amor enviado por Rodolfo. Ele, um garoto tímido, medroso e cheio de vergonhas, que não tem coragem para revelar seus sentimentos pessoalmente. Ela, menina mimada, que não sabe o que é amar, mas espera ansiosa alguém que a ensine. Lê as cartas e bilhetes de seu admirador secreto como quem lê as previsões de chegada de seu príncipe encantado.

– Olá, Jaque. – Os olhos de Rodolfo brilham quando ela passa

– Olá Rô. – Ele treme ao ouvir seu nome ser pronunciado pelos lábios amados.

Rodolfo passa quase que o dia todo na frente da casa da Jéssica. Há uma desculpa para ficar ali, pois em frente à casa dela há uma mureta, que parece um banco, onde ele e os demais garotos da rua ficavam sentados, conversando e se divertindo. Um lugar perfeito para admirar, mas só admirar.

“As máscaras que cobrem meu rosto não me permitem revelar quem sou. Ocultam meu coração e não revelam que sou na verdade seu amante.”

Ninguém sabia de seu amor por Jaqueline, era algo que ele guardava dentro dele, só para ele. Ele sofria, perdia a fome, não tinha vontade de mais nada. Só pensava nela e só queria ela. Ele sofria, mas não fazia nada para amenizar seu sofrimento. Eles eram amigos e ele, bobo, tinha medo de estragar essa amizade. Ficava sempre imaginando os foras que poderia levar e a decepção de Jaqueline se descobrisse seus sentimentos. Ele amava, sem saber o que é amar e sem conhecer o amor.

Jaqueline mostra suas cartas e bilhetes para sua melhor amiga, Patrícia. – Puxa, que lindos Jaque. Bem que eu queria que alguém me mandasse bilhetes com palavras tão lindas. Patrícia também amava alguém, e deseja ser o destinatário dos bilhetes e do amor desta pessoa, afinal, quem ama quer amar, quer amor, quer ser amado.

“Querido diário, hoje quase fui falar com ele. Ia me declarar, dizer tudo o que sinto, o que quero, mas na hora que estava indo, minha amiga Jaque chegou, e eu fiquei com vergonha. Eu queria tanto que ele me notasse. Que viesse falar comigo. Que me amasse.”

O amor é curioso, louco às vezes. Amamos quem não nos ama, e quem nos ama não conseguimos amar. Assim, a vida vai passando, e Rodolfo está cada dia mais desesperançado. Embora tenham crescido juntos e passado muito tempo da infância e da adolescência juntos, hoje Rodolfo e Jaqueline quase não se falam. Estão crescendo, mudando e cada um tem seguido sua vida. Estão concluindo o colégio, pensando na faculdade, em trabalhar. Estão descobrindo o amor de forma diferente, de forma nova, de uma forma sofrida.

Enquanto Rodolfo ama Jaqueline em silêncio, ela ama as palavras de seu admirador, sem saber que ele está tão próximo quanto ela seria capaz de imaginar. Patrícia, enquanto isso, espera o dia em que tomará coragem para revelar seu amor ao seu amado.

“Do que vale amar se não for pra TE amar. Um dia esta máscara eu vou tirar e todo meu amor a você entregar.”

Mas este dia não chegava, parecia na verdade ficar cada dia mais distante. Rodolfo, por medo, se afastava cada vez mais de Jaqueline, que por sua vez, começava a sofrer por não conhecer seu amor. Ela ficava pensando quem poderia ser, de onde a conhecia e como ele fazia para deixar as cartas cada vez em um lugar diferente. Um dia, no portão de sua casa, no outro no meio de seus cadernos, ou dentro de sua mochila. Certo dia, ela se surpreendeu quando uma carta entrou voando pela janela. Ela saiu correndo tentando encontrar seu admirador, mas era tarde, já não havia ninguém ali. Ela pensava: Quem será o amor que me ama em segredo? Até que no seu intimo pensou: Não seria o Rodolfo meu amante secreto? Sinto algo gostoso no olhar e no sorriso dele quando me vê. Ele é legal e sempre nos demos tão bem. Seria legal se fosse ele. Será? Depois de tanto tempo como ele poderia se apaixonar por mim?

Quem entende os caminhos do coração? São caminhos loucos, longe da razão. E nestes caminhos fazemos coisas que ninguém entende. Deixamos acontecer coisas que mudam nossa vida e deixamos ficar dúvidas que nos acompanham pela vida. Mas nunca saberemos o que poderia ter acontecido, se tudo acontecesse de forma diferente.

– Oi Rodolfo.

– Oi Patrícia.

– Posso falar com você? – Patrícia está tremendo, sem saber ao certo o que falar, como falar.

Rodolfo começa a suar. Será que Jaqueline mandou sua melhor amiga falar alguma coisa para ele? Será que ela finalmente descobriu que ele é o autor das cartas e bilhetes e ficou tão chateada que nem quis ir falar pessoalmente com ele? Seus pensamentos estavam fervendo enquanto ele diz: – Claro Pat, tudo bem, pode falar.

– Eu não sei nem como falar. É uma coisa muito delicada.

Imagino que seja, pensa Rodolfo. Você está para dar um golpe em meu coração, e não sabe como fazer. Eu não saberia.

– Eu te amo! Sempre te amei! Sempre quero te amar! Quer namorar comigo?

Silêncio. Rodolfo, Patrícia, ambos ficaram calados, sem reação. Ela não acreditava, finalmente teve coragem para se declarar. Ele não acreditava no que estava ouvindo. Não esperava aquilo. Nunca tinha parado para reparar naquela menina que agora estava sorrindo nervosa na sua frente. Nunca poderia esperar por aquilo e não sabia o que fazer, não sabia o que pensar. Quer dizer, na verdade não conseguia organizar seus pensamentos, pois tantas coisas passavam por sua cabeça que ele não conseguia se concentrar em nada e não sabia o que dizer. Mas, de repente, algo pára todo aquele turbilhão de pensamentos. Jaqueline, vindo em sua direção. Sorrindo, linda, mas tão longe da sua realidade. Na sua frente estava o amor que ele não esperava e agora vinha em sua direção o amor que ele desejavaem segredo. Claro que ela estava vindo por causa de sua melhor amiga, Patrícia e isso apenas acabava ainda mais com suas esperanças de um dia desfrutar do amor de Jaqueline.

_ Oi Rô! 

_ Oi Jaque!

_ Pat, estava mesmo te procurando. Preciso falar com você.

_ Claro. Rodolfo, depois conversamos. E se você quiser me dizer algo, pode me mandar uma mensagem. Estou ansiosa.

Jaqueline achou estranho encontrar Patrícia e Rodolfo conversando, mas depois pensou se eles não estavam justamente conversando a respeito dos sentimentos de Rodolfo por ela.

_ E então, o Rodolfo falou alguma coisa de mim? – Perguntou Jéssica ansiosa.

_ Não, porque?

_ Sei lá, estava pensando, será que não é ele que está me enviando aqueles bilhetes?

Esta simples pergunta caiu como um balde de água gelada sobre Patrícia. Ela nunca tinha pensado nisso, mas agora até que fazia sentido. O jeito que ele olhava pra Jaqueline e o jeito que ela olhava pra ele. Não só era provável que Rodolfo fosse o admirador secreto dela como era quase certo que ela esperava isso.

_ Jaqueline, você está gostando do Rodolfo?

Um sorriso se desenha no rosto de Jaqueline, um sorriso que dispensa qualquer palavra. Neste momento, antes que Jaqueline pudesse responder, um toque do celular de Patrícia avisa a chegada de uma nova mensagem. Ela lê sem acreditar e agora sem saber o que fazer, o que pensar e o que dizer.

“Minha resposta é sim.

Quero namorar com você.

Beijo. Me liga.

Vamos marcar para nos encontrar.

Rodolfo”

 
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Publicado por em julho 8, 2011 em CRÔNICAS E CONTOS

 

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A TEORIA DO AMOR, SUAS VARIAVEIS E SUAS VARIAÇÕES

O interessante sobre esta série de textos, é que eu não a escrevi seguindo uma ordem lógica. Partes dos textos estavam escritas, embora sem desfecho algum, enquanto outras não passavam de idéias na minha cabeça. Mas o que definia os rumos da história era a realidade. A primeira parte do texto fala sobre acontecimentos na vida de uma pessoa, numa fase de confusão e decepção. Agora meu Humberto na vida real estava aos poucos deixando a confusão de lado e se aproximando de uma pessoa especial, sua Jéssica. Todos os sentimentos e emoções relatados no texto, assim como os contatos e até mesmo o encontro, aconteceram de verdade, e serviram como base para os rumos desta história.
Leia os Capítulos Anteriores: Parte 1
A TEORIA DO AMOR, SUAS VARIÁVEIS E SUAS VARIAÇÕES
Um texto de Y. Camargo

Parte 2: Atração

De acordo com os dicionários da língua portuguesa, dentre os vários significados para atração está: química: a que existe entre corpos de natureza diversa, os quais tendem a combinar-se formando compostos.

É uma ótima definição, já que a atração física é na verdade química, ou como dizem, é coisa de pele. É sobre isso que duas amigas conversam enquanto passeiam pelo shopping.

_ Nat, eu pensei que ele estava interessado. Pegou meu telefone, e eu até esperava que ele ligasse, mas até agora nada. Acho que nem vai ligar.

_ Calma Jéssica. Você só o viu uma vez, a dois dias apenas. Sem contar que você nem sabe o nome dele.

_ Mas ele sabe o meu nome e meu número. Se não era pra ligar, por que pediu então? Talvez eu devesse ter pegado o telefone dele, mas será que eu teria coragem de ligar?

_ Pois é, ele pode estar enfrentando o mesmo dilema.

No fim da noite Jéssica está voltando da faculdade, quando seu telefone toca. Ela não reconhece o número, mas sente uma pontada de esperança. Por algum motivo que ela não é capaz de explicar aquele rapaz do ponto de ônibus realmente despertou algo nela, um interesse repentino que a atraiu de tal forma que os poucos minutos em que se viram a marcou profundamente. Ela queria vê-lo novamente, queria conhecê-lo, saber mais sobre ele e naquele momento ela queria que fosse ele ligando.

Não muito longe dali Humberto espera ansioso enquanto o telefone chama. Se passaram dois dias até ele vencer seu medo de telefone e ligar. Ele é muito tímido, principalmente com quem não conhece. Ligar pra alguém que ele não conhece é muito difícil, principalmente quando não se trata de uma ligação qualquer, para uma pessoa qualquer. Era uma situação diferente, ele queria, precisava falar com aquela garota que não saia de seus pensamentos. Assim como ela, ele ansiava por vê-la, por conhecê-la. Ele finalmente tomou coragem para ligar, mas ainda não fazia idéia do que falaria quando, ou se, ela atendesse.

A atração é uma das três principais emoções apontadas nos estudos científicos que tentam localizar o amor no cérebro. Diz respeito aos aspectos físicos e não-verbais. Não há como forçar, simplesmente acontece. Não se trata apenas de atração sexual, embora isso também seja muito importante num relacionamento. É um ciclo que começa no cérebro e se espalha pelo corpo. No momento em que Humberto e Jéssica se olharam, este ciclo foi iniciado no cérebro deles. É a atração que está fazendo com que eles desejem se conhecer, estar mais perto um do outro, mesmo que no momento, apenas por telefone.

_ Alô!

Jéssica? – Humberto estava perdido em seus pensamentos, sem saber o que dizer. Ele nunca foi bom em se expressar. Conseguia até escrever bem, mas falar era muito difícil, ainda mais nesta fase de primeiros contatos. Mas ele precisava vencer toda vergonha e timidez. _ Aqui é o Humberto. Do ponto de ônibus, sábado. Lembra? Ele riu enquanto pensava no quanto isso parecia ridículo. Claro que ela não se lembra, não sei nem se passou o telefone certo.

– Oi. Lembro sim. – Jéssica responde, com um sorriso nos lábios e borboletas no estômago.

Seus corações batiam mais rápido enquanto a temperatura do corpo ia as alturas. Conversaram, riram, se conheceram um pouco mais, ainda de forma tímida. Trocaram endereços de e-mail, mensageiro instantâneo, redes sociais, etc. Por fim, desligaram. Mas ainda se falaram muitas outras vezes durante a semana, várias vezes por dia, principalmente por e-mail. Ela mandava lindos e-mails para ele, que não ficava atrás e retornando outros tão lindos quantos. A felicidade transbordava em cada nova mensagem, a ansiedade às vezes chegava a doer, esperando a próxima resposta enquanto sentiam uma euforia quase que permanente. Eles estavam nas nuvens. Combinaram tudo para sábado, quando marcaram de se encontrar num barzinho no centro da cidade.

Finalmente chegou o dia tão esperado. Naquela noite Humberto e Jéssica sairiam pela primeira vez. Já não se agüentavam de tanta ansiedade. Naquele dia as flores tinham uma cor especial, os pássaros cantavam mais, o sol brilhava de forma mais intensa. Sem dúvida naquela noite as estrelas sorririam.

<Fim da Parte 2>

 
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Publicado por em maio 2, 2011 em CRÔNICAS E CONTOS, RELACIONAMENTO

 

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A TEORIA DO AMOR, SUAS VARIAVEIS E SUAS VARIAÇÕES

Apesar de gostar de escrever, escrevo muito pouco. Talvez por falta de tempo, às vezes por preguiça mesmo. Mas tem momentos em que algo acontece em minha vida, ou vejo/ouço algo da vida de alguém próximo, que me dá vontade de escrever. O texto abaixo é um dos primeiros textos que escrevi, baseado num momento muito específico da vida de uma pessoa, que passou por boa parte das experiências descritas e que, apesar de ter sido vencido pela timidez no episódio do ponto de ônibus (sim, realmente aconteceu), acabou voltando a acreditar no amor quando olhou para o lado e se apaixou por uma pessoa maravilhosa que esteve ali o tempo todo.

A TEORIA DO AMOR, SUAS VARIAVEIS E SUAS VARIAÇÕES

Um texto de Y. Camargo

Prólogo

O amor é real? O amor existe? O que realmente é amor? O dicionário Michaelis define amor da seguinte forma:

sm (lat amore) 1 Sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso. 2 Grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário. 3 Afeição, grande amizade, ligação espiritual. 4 Objeto dessa afeição. 5 Benevolência, carinho, simpatia. 6 Tendência ou instinto que aproxima os animais para a reprodução. 7 Desejo sexual. 8 Ambição, cobiça. 9 Culto, veneração. 10 Caridade. 11 Coisa ou pessoa bonita, preciosa, bem apresentada. 12 Tendência da alma para se apegar aos objetos. 13 Namoro. 2 O objeto amado. 3 O tempo em que se ama.

Na minha humilde opinião, amor seria pouco e muito de tudo isso. Há amores e amores. Tipos e fases de amor e do amar. Eu por exemplo, amo minha família. É um amor incondicional, grande, uma ligação de sangue. Mas há ainda a família que escolhi. Meus amigos e amigas. Também os amo de forma muito especial, afinal, eu os escolhi para amar.

Mas e quanto ao tal discutido amor romântico? O amor de um homem por uma mulher. A grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário.

Humberto sempre questionou a existência do amor. Ele já sofreu tanto por causa de seus sentimentos enganosos. Amor não existe, dizia ele. Tem se tornado normal ouvir isso hoje em dia. Eu mesmo já disse algumas vezes, em momentos de intensa decepção. Até que compreendi um pouco melhor o que poderia ser o amor. Acho difícil ter certeza, até porque uma das coisas que percebi é que a forma do amor varia de pessoa para pessoa.

Parte 1: Como nasce o amor?

Humberto acabara de sair de um casamento decepcionado, onde ele se viu perdendo boa parte de sua vida. Só queria saber de curtir, aproveitar a liberdade. Saia com várias mulheres, mas não havia sentimento. Como a maioria dos homens, ele só queria saber de sexo. Mas no fundo ele sabia que não era aquela vida que ele queria. Faltava alguma coisa. Ele sentia um vazio em seu coração, mas não sabia exatamente o que era. Era difícil ver Humberto sozinho, estava sempre acompanhado de lindas mulheres e de seus muitos amigos. Mas ainda sim ele se sentia muito solitário.

Noite de domingo, ele está voltando da casa de seus pais. Já em sua cidade, está esperando o ônibus, quando acontece algo que ele jamais poderia esperar. Ele tem uma visão do céu, um anjo esplendoroso que atrai sua atenção. Cada homem possui uma definição intima de mulher ideal, e ele a vê bem ali na sua frente. Ela olha pra ele. Ele sorri, sem jeito, sem graça. Mas que loucura, isso é um ponto de ônibus. Devo estar bancando o ridículo. Mas ela olha novamente, sorrindo, e cochicha algo com sua amiga.

Ela parece interessada. Não é possível. Logo aqui. O que eu faço. Ah, será que este é o ônibus dela? Preciso fazer alguma coisa. Não era o ônibus dela. Mas ele não podia ficar esperando que ela fosse embora sem fazer nada. Ele se arrependeria pelo resto da vida.

Tempo, lugar, hora, ambiente. Pode acontecer em qualquer lugar. Aquela faísca inexplicável, o brilho no olhar, as borboletas no estomago. Não importa se num ponto de ônibus ou na porta de um banheiro. Pessoalmente ou pela internet. Quando tem que acontecer, simplesmente acontece.

_ Oi. Tudo bem? Ele finalmente toma coragem para falar com ela.

Ela sorri e responde um pouco sem graça. – Oi! Tudo.

_ Bom, acho que não temos muito tempo, então… posso pegar seu telefone ou te passar o meu?

_ Claro! Anota o meu número.

Com um sorriso bobo no rosto ele ouve e anota o telefone. Já não consegue controlar seus pensamentos. Nem acredita no que está fazendo. Ela deve estar achando que sou louco. . Jéssica, que nome lindo, é a coisa mais linda que alguém pôde fazer.

_ Sabe… Ele tenta dizer, ainda meio atrapalhado com a situação inusitada.

_ Meu ônibus. Tenho que ir. Tchau!

Sem graça e claramente frustrado ele responde. – Tchau. Eu te ligo.

– Isso, liga sim. – Ela diz, enquanto entra no ônibus rindo com sua amiga.

Ele a segue com olhos, ainda incrédulo. Mas o que foi que acabou de acontecer? E lá se vai ela, rumo ao Novo Horizonte, tão perto, tão longe.

Fim da Parte 1

 
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Publicado por em abril 30, 2011 em CRÔNICAS E CONTOS, RELACIONAMENTO

 

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