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Sexo e cérebro

Drauzio Varella

Os neurônios das mulheres formam circuitos com os quais nem sonha a filosofia masculina. E, vice-versa.

A anatomia do sistema nervoso e as particularidades dos sinais bioquímicos mediadores das mensagens que trafegam pelo cérebro são moldadas pela ação dos hormônios sexuais desde os primeiros passos da vida embrionária.

O advento da ressonância magnética funcional e de outras técnicas de imagem através das quais podemos obter imagens do cérebro em funcionamento, permitiu demonstrar que as áreas cerebrais ativadas na execução de determinada tarefa por mulheres ou homens, não são exatamente as mesmas.

Tão importante quanto as influências culturais a que estamos sujeitos desde a mais tenra idade, essa assimetria sexual na arquitetura dos circuitos de neurônios explica diferenças de aptidões, habilidades e o padrão dos distúrbios mentais característicos de cada sexo.

As mulheres, por exemplo, estão mais sujeitas a quadros de depressão, de anorexia e a distúrbios de ansiedade. Os homens exibem comportamento anti-social, abusam de drogas e desenvolvem esquizofrenia com maior freqüência. Tentativas fracassadas de suicídio são mais comuns no sexo feminino; as que resultam em óbito, no masculino.

Distúrbios que afetam as emoções acontecem com maior prevalência nas mulheres. Eles incluem os quadro de depressão e os distúrbios de ansiedade (síndrome do pânico, estresse pós-traumático, distúrbio de ansiedade generalizada, fobias e distúrbios alimentares).

Em relação aos homens, a prevalência de depressão nas mulheres é duas vezes maior; a de estresse pós-traumático, quatro vezes; a de fobias, duas vezes; a de síndrome do pânico, três vezes; a de anorexia nervosa, dez vezes.

Ansiedade e depressão são fenômenos bioquimicamente relacionados. Experiências negativas provocam liberação de neurotransmissores capazes de modular impulsos nervosos que disparam o estresse, mecanismo fortemente influenciado pelos hormônios sexuais. Níveis baixos ou muito elevados de estrogênio causam quadros depressivos em mulheres suscetíveis. A testosterona protege contra os efeitos deletérios das experiências negativas e da depressão por reduzir a liberação de cortisol, hormônio produzido pelas supra-renais na elaboração do mecanismo de estresse.

A sensação de medo ativa a resposta ao estresse com mais intensidade no sexo feminino. Em testes nos quais espectadores de ambos os sexos são colocados diante de imagens assustadoras, as mulheres apresentam aumento mais intenso da freqüência cardíaca e da sudorese nas mãos, e maior ativação de uma área cerebral denominada amígdala, estrutura central na configuração das reações ao medo.

A qualidade da experiência negativa provoca reações particulares segundo o sexo. Por exemplo, testes em que mulheres e homens devem executar tarefas intelectuais diante de uma banca de examinadores, levam à maior produção de cortisol, o hormônio do estresse, em homens. Já nos testes de “rejeição social” em que homens e mulheres são excluídos do grupo pelos examinadores, as mulheres liberam concentrações mais altas de cortisol. A tendência masculina é de reagir ao estresse com impulsos de agressividade e de expressar com clareza as insatisfações, enquanto as mulheres tendem a ser mais contidas. A diferença de tendências coloca-as em risco de desenvolver depressão, ansiedade e distúrbios alimentares, enquanto nos homens o risco é de violência e abuso de drogas.

Experiências em seres humanos e outros primatas mostram que o aumento súbito dos níveis de testosterona na puberdade masculina coincide com a instalação de comportamentos agressivos e atitudes anti-sociais. Os ovários também produzem testosterona, mas em concentrações 20 vezes menores. Quando as mulheres fazem uso de testosterona tornam-se mais agressivas.

Como nenhum fenômeno biológico encontra sentido se não for analisado à luz da evolução, a justificativa para a diversidade sexual dos distúrbios mentais mencionados deve ser procurada no passado remoto de nossa espécie. Nas fêmeas, a pronta ativação dos circuitos cerebrais envolvidos nas reações ao medo certamente terá sido útil na hora de fugir do perigo para proteger a prole. Nos machos, a agressividade foi crucial nas disputas de território e nas lutas pela posse das fêmeas.

 
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Publicado por em junho 15, 2009 em RELACIONAMENTO, SAÚDE

 

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